domingo, 30 de março de 2008

O ARAPONGA E O REPORTER

A matéria foi bombástica e ajudou a deflagrar a crise do “mensalão”. Uma reportagem de 18 de maio de 2005, de Policarpo Jr., da sucursal da Veja em Brasília, mostrava o flagrante de um funcionários dos Correios – Mauricio Maurinho – recebendo R$ 3 mil de propina (clique aqui)

A abertura seguia o estilo didático-indagativo da revista:

(…) Por quê? Por que os políticos fazem tanta questão de ter cargos no governo? Para uns, o cargo é uma forma de ganhar visibilidade diante do eleitor e, assim, facilitar o caminho para as urnas. Para outros, é um instrumento eficaz para tirar do papel uma idéia, um projeto, uma determinada política pública. Esses são os políticos bem-intencionados. Há, porém, uma terceira categoria formada por políticos desonestos que querem cargos apenas para fazer negócios escusos – cobrar comissões, beneficiar amigos, embolsar propinas, fazer caixa dois, enriquecer ilicitamente.

A revista informava que tinha conseguido dar um flagrante em um desses casos na semana anterior:

Raro, mesmo, é flagrar um deles em pleno vôo. Foi o que VEJA conseguiu na semana passada.

Anotem a data que a revista menciona que recebeu a gravação. Será importante para entender os lances que serão mostrados no decorrer deste capítulo.

A matéria, como um todo, não se limitava a descrever uma cena de pequena corrupção explícita, embora só essa pudesse ser comprovada pelo grampo. Tinha um alvo claro, que eram as pessoas indicadas pelo esquema PTB, especialmente na Eletronorte e na BR Distribuidora. O alvo era o esquema. Marinho, apenas o álibi.

O que a matéria não mostrava eram as intenções efetivas por trás do dossiê e do grampo. Os R$ 3 mil eram um álibi para desmontar o esquema do PTB no governo, decisão louvável, se em nome do interesse público; jogo de lobby, se para beneficiar outros grupos.

Antes de voltar à capa, uma pequena digressão sobre as alianças espúrias do jornalismo.

Os dossiês e os chantagistas.

A partir da campanha do “impeachment” de Fernando Collor, jornalistas, grampeadores e chantagistas passaram a conviver intimamente em Brasília. Até então, havia uma espécie de barreira, que fazia com que chantagistas recorressem a publicações menores, a colunistas da periferia, para montar seus lobbies ou chantagens. Não à grande mídia.

Com o tempo, a necessidade de fabricar escândalo a qualquer preço provocou a aproximação, mais que isso, a cumplicidade entre alguns jornalistas, grampeadores e chantagistas. Paralelamente, houve o desmonte dos filtros de qualidade das redações, especialmente nas revistas semanais e em alguns diários.

Foi uma associação para o crime. Com um jornalista à sua disposição, o grampeador tem seu passe valorizado no mercado. A chantagem torna-se muito mais valiosa, eficiente, proporcional ao impacto que a notícia teria, se publicada.

É uma aliança espúria, porque o leitor toma contato com os grampos e dossiês divulgados. Mas, na outra ponta, a publicação fortalece o achacador em suas investidas futuras. Não se trata de melhorar o país, mas de desalojar esquemas barra-pesadas em benefício de outros esquemas, igualmente barra-pesadas, mas aliados ao repórter. E fica-se sem saber sobre as chantagens bem sucedidas, as que não precisaram chegar às páginas de jornais.

Por ser um terreno minado, publicações sérias precisam definir regras claras de convivência com esse mundo do crime. A principal é o jornalista assegurar que material recebido será publicado – e não utilizado como elemento de chantagem.

Nos anos 90 esses preceitos foram abandonados pelo chamado jornalismo de opinião. No caso da Veja a deterioração foi maior que nos demais veículos. O uso de matérias em benefício pessoal (caso dos livros de Mario Sabino), o envolvimento claro em disputas comerciais (a “guerra das cervejas” de Eurípedes Alcântara), o lobby escancarado (Diogo Mainardi com Daniel Dantas), a falta de escrúpulos em relação à reputação alheia, tudo contribuiu para que se perdessem os mecanismos de controle.

Submetida a um processo de deterioração corporativa poucas vezes visto, a Abril deixou de exercer seus controles internos. E a direção da revista abriu mão dos controles externos, ao abolir um dos pilares do moderno jornalismo – o direito de resposta – e ao intimidar jornalistas de outros veículos com seus ataques desqualificadores.

É nesse cenário de deterioração editorial que ocorre o episódio Maurício Marinho.
A parceria com o araponga.

Nas alianças políticas do governo Lula, os Correios foram entregues ao esquema do deputado Roberto Jefferson. Marinho era figura menor, homem de propina de R$ 3 mil.

Em determinado momento, o esquema Jefferson passou a incomodar lobistas que atuavam em várias empresas. Dentre eles, o lobista Arthur Wasneck. Este recorreu a dois laranjas – Joel dos Santos Filhos e João Carlos Mancuso Villela – para armar uma operação que permitisse desestabilizar o esquema Jefferson não apenas nos Correios. como na Eletrobrás e na BR Distribuidora. É importante saber desses objetivos para entender a razão da reportagem da propina dos R$ 3 mil ter derivado - sem nenhuma informação adicional - para os esquemas ultra-pesados em outras empresas. Fazia parte da estratégia da reportagem.

A idéia seria Joel se apresentar a Marinho como representante de uma multinacional, negociar uma propina e filmar o flagrante. Como não tinham experiência com gravações mais sofisticadas, decidiram contratar o araponga Jairo Martins.

E, aí, tem-se um dos episódios mais polêmicos da história do jornalismo contemporâneo, um escândalo amplo, do qual Veja acabou se safando graças à entrevista de Roberto Jefferson à repórter Renata Lo Prete, da Folha, que acabou desviando o foco da atenção para o “mensalão”.

Havia um antecedente nesse episódio, que foi o caso Valdomiro Diniz, a primeira trinca grave na imagem do governo Lula. Naquele episódio consolidaram-se relações e alianças entre um conjunto de personagens suspeitos: o bicheiro Carlinhos Maracanã (que bancou a operação de grampo de Valdomiro), o araponga Jairo Martins (autor do grampo) e o jornalista Policarpo Jr (autor da reportagem).

No caso Valdomiro, era um contraventor – Carlinhos Maracanã – sendo achacado por um dos operadores do PT, homem que desempenhava para o Chefe da Casa Civil, José Dirceu, o mesmo papel de Antonio Buratti para Antonio Pallocci.

Jairo era um ex-funcionário da ABIN (Agência Brasileira de Inteligência), contratado pelo bicheiro para filmar o pagamento de propina a Valdomiro Diniz.
Tempos depois, Jairo foi convidado para um almoço pelo genro de Carlinhos Maracanã, Casser Bittar.

Lá, foi apresentado a Wesneck, que o contratou para duas tarefas, segundo o próprio Jairo admitiu à CPI: providenciar material e treinamento para que dois laranjas grampeassem Marinho; e a possibilidade do material ser publicado em órgão de circulação nacional.

Imediatamente Jairo entrou em contato com Policarpo e acertou a operação. O jornalista não só aceitou a parceria, antes mesmo de conhecer a gravação, como avançou muito além de suas funções de repórter.

O grampo em Marinho foi colocado em um DVD. Jairo marcou, então, um encontro com Policarpo. Foi um encontro reservado - eles jamais se falavam por telefone, segundo o araponga -, no próprio carro de Policarpo, no Parque da Cidade. Policarpo levou um mini-DVD, analisou o material e atuou como conselheiro: considerou que a gravação ainda não estava no ponto, que havia a necessidade de mais. Recebeu a segunda, constatou que estava no ponto. E guardou o material na gaveta, aguardando a autorização do araponga, mesmo sabendo que estava se colocando como peça passiva de um ato de chantagem e achaque. Wesneck tinha, agora, dois trunfos nas mãos: a gravação da propina de R$ 3 mil e um repórter, da maior revista do país, apenas aguardando a liberação para publicar a reportagem.

Quando saiu a reportagem, a versão de que havia recebido o material na semana anterior era falsa e foi desmentida pelos depoimentos dados por ele e por Jairo à Policia Federal e à CPI do Mensalão.

Pressionado pelo eficiente relator Osmar Serraglio, na CPI do Mensalão, Jairo negou ter recebido qualquer pagamento de Wesneck. Disse ter se contentado em ficar com o equipamento, provocando reações de zombaria em vários membros da CPI.

Depois, revelou outros trabalhos feitos em parceria com a Veja. Mencionou série de trabalhos que teria feito e garantiu que sua função não era de araponga, mas de jornalista. O único órgão onde seus trabalhos eram publicados era a Veja. Indagado pelos parlamentares se recebia alguma coisa da revista disse que não, que seu objetivo era apenas o de "melhorar o pais".

Segundo o depoimento de Jairo:

"Aí fiquei esperando o OK do Artur Washeck pra divulgação do material na imprensa. Encontrei com ele pela última vez no restaurante, em Brasília, no setor hoteleiro sul, quando ele disse: ‘Eu vou divulgar o fato. Quero divulgar’. E decorreu um período que essa divulgação não saía. Aí foi quando eu fiz um contato com o jornalista e falei: ‘Pode divulgar a matéria’’.

Clique aqui para ler os principais trechos do depoimento do araponga Jairo à CPI.

E aqui para acessar o relatório final da CPMI.

Reações na mídia.

A revelação do episódio provocou reações acerbas de analistas de mídia.

No Observatório da Imprensa, Alberto Dines publicou o artigo “A Chance da Grande Catarse do Jornalismo”.

O atual ciclo de denúncias não chega a ser uma antologia de jornalismo mas é uma preocupante coleção de mazelas jornalísticas. Busca-se a credibilidade mas poucos oferecem transparência, pretende-se a moralização da vida pública mas os bastidores da imprensa continuam imersos na sombra:Tudo começou com uma matéria de capa da Veja sobre as propinas nos Correios, clássico do jornalismo fiteiro.

(...) Carece de (...) transparência a ouverture desta triste e ruidosa temporada através da Veja. Dois meses depois, a divulgação do vídeo da propina nos Correios continua envolta em sombras, rodeada de dúvidas e desconfianças. E, como não poderia deixar de acontecer com fatos mantidos no lusco-fusco da dubiedade, cada vez que a matéria é examinada ou discutida sob o ponto de vista estritamente profissional, mais interrogações levanta.

Caso da entrevista ao Jornal Nacional (Rede Globo, quinta-feira, 30/6) do ex-agente da ABIN, Jairo Martins de Souza, autor da gravação. O araponga — que, aliás, se diz jornalista [veja abaixo comentários de Ricardo Noblat] e faz negócios com jornalistas — revelou que ofereceu o vídeo ao repórter Policarpo Júnior, da sucursal da Veja em Brasília, e que este aceitou-o antes mesmo de examinar o seu teor [abaixo, a transcrição da matéria do JN].

Na hora da entrega, o jornalista teria usado um reprodutor portátil de DVD para avaliar a qualidade das imagens. De que maneira chegou ao jornalista e por que este aceitou o vídeo são questões que até hoje não foram esclarecidas.

Tanto o repórter como a revista recusam-se terminantemente a oferecer qualquer tipo satisfação ou esclarecimento aos leitores. Não se trata de proteger as fontes: elas seriam inevitavelmente nomeadas quando o funcionário flagrado, Maurício Marinho, começasse a depor. Foi exatamente o que aconteceu e hoje Veja carrega o ônus de ter se beneficiado de uma operação escusa – chantagem de um corrupto preterido ou ação formal da Abin para desmoralizar um aliado incômodo (o PTB, de Roberto Jefferson).

(...) Araponga não é jornalista, vídeo secreto ainda não é reconhecido como gênero de jornalismo. Talvez o seja num futuro próximo.

O episódio mereceu comentários do blogueiro Ricardo Noblat:

Ao ser contratado para filmar Marinho e grampear André Luiz, a primeira coisa que ele disse que fez foi procurar a Veja e oferecer o material. ‘Foi um trabalho puramente jornalístico’, garantiu.

A amigos, nas duas últimas semanas, Jairo confessou mais de uma vez que espera ganhar o próximo Prêmio Esso de Jornalismo. Ele se considera um sério candidato ao prêmio.

Não é brincadeira não, é serio! Porque ele está convencido de que filmou e grampeou como free-lancer da Veja – embora jamais tenha recebido um tostão dela por isso. Recebeu dos que encomendaram as gravações.

Jairo ganhava como araponga e pensava em brilhar como jornalista.

É, de certa forma faz sentido."

Tempos depois, a aliança com o araponga renderia a Policarpo a promoção para chefe de sucursal da Veja em Brasília. A revista já caíra de cabeça, sem nenhuma espécie de filtro, no mundo nebuloso dos dossiês e dos pactos com lobistas. E o grande pacto do silêncio que se seguiu, permitiu varrer para baixo do tapete as aventuras de Veja com o araponga repórter.


O final da história


Parte da história terminou em agosto de 2007. Sob o titulo “PF desmonta nova máfia nos Correios”, o Correio Braziliense noticava o desbaratamento de uma nova quadrilha que tinha assumido o controle dos Correios (clique aqui).


No comando, Arthur Wascheck, o empresário que contratou o espaço que Jairo tinha na revista Veja. Ele foi preso por agentes federais e acusado pelo Ministério Público de ter herdado o esquema de corrupção dentro da Estatal.


Durante a Operação Selo, foram presas cinco pessoas, em dois estados mais o Distrito Federal.


Segundo o jornal:


Entre os presos estão Sérgio Dias e Luiz Carlos de Oliveira Garritano, funcionários dos Correios, além dos empresários Antônio Félix Teixeira, Marco Antônio Bulhões e Arthur Wascheck, considerado pela PF como líder do grupo e acusado de ter sido o responsável pela gravação feita no dia em que Marinho recebia a propina. Os investigadores não quantificaram o volume de recursos envolvidos nas fraudes, mas calculam que seja de dezenas de milhões de reais.


De acordo com os investigadores, “o grupo agia como traficantes nos morros".


“Havia uma quadrilha na ECT (Empresa de Correios e Telégrafos), que foi desbaratada e afastada. A outra organização tomou o lugar dela. Assim como os traficantes fazem, quando saem, morrem ou são presos, acontece a mesma coisa no serviço público. Quando uma quadrilha sai do local, entra outra e começa a praticar atos ilícitos no lugar da que saiu”, explica o delegado Daniel França, um dos integrantes do grupo de investigação.


A corrupção tinha apenas trocado de mãos:


Para o Ministério Público Federal, o entendimento era o mesmo.


“Não se pode dizer que a corrupção terminou ou se atenuou. O que houve foi uma substituição de pessoas, alijadas do esquema”, afirma o procurador da República Bruno Acioli.


Segundo ele, há pelo menos 20 empresas, muitas delas ligadas a Wascheck, estão envolvidas nas fraudes que podem atingir outros órgãos públicos, conforme investigações da PF.


A ficha de Wescheck era ampla e anterior ao episódio do qual Veja aceitou participar:


O empresário, conforme os investigadores, atuava na área de licitações desde 1994, sendo que um ano depois ele fora condenado por irregularidades em licitação para aquisição de bicicletas pelo Ministério da Saúde.


O valor das fraudes chegava a milhões de reais:


Segundo a polícia, o grupo de Wascheck vendia todo tipo de material para os Correios. De sapato a cofres, sendo que muitos integrantes do esquema eram também procuradores de outras empresas envolvidas nas concorrências. Com a análise dos documentos, que começou a ser feita ontem, os investigadores devem chegar aos valores das fraudes. “O que posso dizer é que esse prejuízo é de milhões de reais. Dezenas de milhões de reais”, diz o procurador da República, ressaltando que seu cálculo se baseia em alguns casos específicos. “Existem licitações na casa de bilhões de reais”, afirma o procurador.


No sistema de buscas da revista, as pesquisas indicam o seguinte:


Operação Selo Wascheck: 0 ocorrências.


Operação Selo (frase exata) Período 2007: 0 ocorrências.


Revista de 8 de agosto de 2007: nenhuma menção.


Na edição de 15 de agosto, nenhuma menção. Mas uma das materias esopeciais atende pelo sugestivo título de “Porque os corruptos não vão presos”


"Frágil como papel.


A Justiça brasileira é incapaz de manter presos assassinosconfessos e corruptos pegos em flagrante. Na origem daimpunidade está a própria lei".


A reportagem fala do mensalão, insinua que os implicados até melhoraram de vida, menciona símbolos midiáticos de corrupção (Quércia, Maluf, Collor etc). Nenhuma palavra sobre a Operação Selo e sobre o papel desempenhado pelas reportagens de escândalo da própria revista no jogo das quadrilhas dos Correios.

domingo, 16 de março de 2008

O último factóide

No capítulo “O Estilo Veja de Jornalismo” mostrei os princípios de atuação ficcional da revista e algumas análises de caso – como a material fantasiosa sobre o estouro do câmbio em 1999.

Não poucas vezes, a revista "criou" notícias meramente recorrendo a um recurso que, em jornalismo, se chama vulgarmente de “cozidão” – isto é, um apanhado de fatos velhos, já divulgados, mas apresentados como novidade.

Durante a campanha do "mensalão" e depois dela, poucas vezes se viu tamanha quantidade de factóides criados por uma única publicação. Mais surpreendente é que cada matéria, por mais inverossímil que fosse, acaba recebendo ampla repercussão dos demais veículos da grande mídia - com a irracionalidade e falta de critérios típicos do chamado "efeito-manada".

O último factóide da revista, aquele em que aparentemente fez cair a ficha da mídia em relação ao festival de ficções da revista, envolveu diretamente o Supremo Tribunal Federal (STF).
Foi a matéria “A sombra do estado policial”, de Policarpo Júnior, capa da edição de 22 de agosto de 2007 (clique aqui), ainda dentro do clima conspiratório herdado da campanha eleitoral.
Como sempre, capa, manchete, submanchete, tudo rescendia a conspiração:

Medo no SupremoMinistros do Supremo reagem à suspeita de grampo na mais alta corte de Justiça do país.


Ninguém mais na mídia tinha percebido qualquer sinal de "medo" do Supremo, ou de generalização das escutas atingindo os Ministros. Aliás, os últimos abusos contra juízes haviam partido da própria revista e do próprio autor da reportagem, no falso dossiê contra o então presidente do Superior Tribunal de Justiça Edson Vidigal - abordado no capítulo “O dossiê falso”.
Não se sabia ao certo qual a intenção da matéria. Seguramente, uma tentativa canhestra de se aproximar do Supremo, utilizando a moeda de troca da qual a revista sempre usou e abusou: a visibilidade, a apologia, pegando no centro de uma das fraquezas humanas, a vaidade.


Podia ser a Abril querendo se aproximar do STF (em função da expectativa de uma eventual CPI da Abril), ou se sentindo objeto de investigação da Polícia Federal, ou algo relacionado com as pendengas entre Daniel Dantas e a PF; ou mesmo como forma de coação indireta aos membros do STF, que estavam prestes a julgar os acusados pelo "mensalão".


Que era um factóide, não havia dúvida.


Na abertura, forçava um lide, dentro do estilo tatibitate-recitativo (“sim, beira o inacreditável”) de Mario Sabino, em cima dos “levantamentos” de Policarpo.


“É a primeira vez que, sob um regime democrático, os integrantes do Supremo Tribunal Federal se insurgem contra suspeitas de práticas típicas de regimes autoritários: as escutas telefônicas clandestinas. Sim, beira o inacreditável, mas os integrantes da mais alta corte judiciária do país suspeitam que seus telefones sejam monitorados ilegalmente”.


Aliás, um dos truques de retórica mais utilizados pela revista, quando pretende esquentar um tema, é a história do "nunca antes" - alvo de ironia quando dos discursos oficiais.

Seguia-se o velho estratagema das estatísticas de fontes:

“Nas últimas semanas, VEJA ouviu sete dos onze ministros do Supremo – e cinco deles admitem publicamente a suspeita de que suas conversas são bisbilhotadas por terceiros. Pior: entre eles, três ministros não vacilam em declarar que o suspeito número 1 da bruxaria é a banda podre da Polícia Federal”.

Ia além

"As suspeitas de grampos telefônicos estão intoxicando a atmosfera do tribunal".

Uma capa de revista semanal é uma celebração. É tema relevante, quente, em que se colocam os melhores quadros para apurar os dados.

Porém, de informações objetivas, a reportagem tinha o seguinte:

"A Polícia Federal se transformou num braço de coação e tornou-se um poder político que passou a afrontar os outros poderes", afirma o ministro Gilmar Mendes, numa acusação dura e inequívoca".

Notícia de 24 de maio de 2006, na "Folha" (clique aqui).

"O ministro (Sepúlveda Pertence) diz que as suspeitas de que a polícia manipula gravações telefônicas aceleraram sua disposição em se aposentar. "Divulgaram uma gravação para me constranger no momento em que fui sondado para chefiar o Ministério da Justiça, órgão ao qual a Polícia Federal está subordinada. Pode até ter sido coincidência, embora eu não acredite", afirma".

A notícia era de janeiro de 2007, conforme o Terra Magazine (clique aqui).

Mas a matéria de Veja esquentava o recozido:

"Na quinta-feira passada, o ministro Sepúlveda Pertence pediu aposentadoria antecipada e encerrou seus dezoito anos de tribunal. Poderia ter ficado até novembro, quando completa 70 anos e teria de se aposentar compulsoriamente. Muito se especulou sobre as razões de sua aposentadoria precoce. Seus adversários insinuam que a antecipação foi uma forma de fugir das sessões sobre o escândalo do mensalão, que começam nesta semana, nas quais se discutirá o destino dos quadrilheiros – entre eles o ex-ministro José Dirceu, amigo de Pertence. A mulher do ministro, Suely, em entrevista ao blog do jornalista Ricardo Noblat, disse que a saída de seu marido deve-se a problemas de saúde. O ministro, no entanto, diz que as suspeitas de que a polícia manipula gravações telefônicas aceleraram sua disposição em se aposentar. "Divulgaram uma gravação para me constranger no momento em que fui sondado para chefiar o Ministério da Justiça, órgão ao qual a Polícia Federal está subordinada. Pode até ter sido coincidência, embora eu não acredite", afirma".

"Os temores de grampo telefônico com patrocínio da banda podre da PF começaram a tomar forma em setembro de 2006, em plena campanha eleitoral. Na época, o ministro Cezar Peluso queixou-se de barulhos estranhos nas suas ligações e uma empresa especializada foi chamada para uma varredura".

A notícia era de 17 de setembro de 2006 (clique aqui).

"O ministro Marco Aurélio Mello recebeu uma mensagem eletrônica de um remetente anônimo. O missivista informava que os telefones do ministro estavam grampeados e que policiais ofereciam as gravações em Campo Grande.O caso foi investigado, mas a Polícia Federal - ela, de novo - concluiu que a mensagem era obra de estelionatários fazendo uma denúncia falsa".

No decorrer da semana, Blogs e veículos da grande imprensa desmascararam a farsa. Praticamente todo leitor bem informado percebeu que estava diante de um “cozidão”.
Os dois principais fatos da reportagem: as declarações de Sepúlveda Pertence e de Marco Aurélio de Mello foram colocadas nos devidos termos pelos próprios Ministros.

O desmentido de Sepúlveda

No dia 20 de agosto de 2007, o jornalista Bob Fernandes, da Terra Magazine, ouviu o Ministro Sepúlveda Pertence (clique aqui)

- Ministro, boa tarde. Estou ligando para falar sobre a denúncia, sobre a hipótese de grampo telefônico contra o senhor, contra ministros do Supremo, publicada na Veja desta semana.

- Sim, eu falei com a revista sobre o assunto.

- O senhor foi grampeado?

- ... falei sobre um assunto que aconteceu comigo (publicado neste Terra Magazine em janeiro, leia aqui).

- Sim, é um assunto que conhecemos. Mas, lhe faço uma pergunta: O senhor crê ter sido grampeado?

- Não...

- O senhor acredita ter sido grampeado, ou seus colegas terem sido grampeados?

- Não, não creio em grampos contra mim.- Nem contra...

- Não, não tenho nenhuma razão para crer em grampo telefônico...

- Mas...

- ... o que eu falei foi sobre aquele episódio... salvo aquele episódio, não tenho nada a dizer sobre este assunto.

- O ministro Marco Aurélio Mello já desmentiu, nesta segunda, a existência de grampo, disse que falava por ele... O senhor acha que houve um engano?

- ... um engano.

O desmentido de Mello

No domingo do próprio fim-de-semana em que a capa saiu, ouvido pelas rádios, Marco Aurélio Mello desmentiu o teor da matéria.

Denúncia de grampo no STF era falsa

O Globo; CBN (clique aqui)

BRASÍLIA - A Polícia Federal afirma que era falsa a denúncia de que agentes federais estariam negociando escutas telefônicas com conversas de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). A investigação mostrou que os e-mails apócrifos recebidos pelo ministro Marco Aurélio de Mello, relatando o suposto grampo, faziam parte de uma vingança pessoal. Um funcionário do INSS exonerado por corrupção tentou incriminar o delegado da PF que o investigou.

Marco Aurélio recebeu o resultado da investigação do ministro da Justiça, Tarso Genro, e o encaminhou ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza

- O sujeito (funcionário do INSS) queria fustigar o delegado. Trata-se de retaliação. Foi satisfatória a apuração. Dei o episódio como suplantado - disse Marco Aurélio.

Requentando o recozido

Não adiantou. O amadorismo e a falta de sensibilidade jornalística impediram a direção de redação de ver que o modelo de criar factóides já tinha se esgotado.

Na semana seguinte, a direção de redação recorreu aos mesmos estratagemas conhecidos, para dar sobrevida à falsificação.

Na seção de cartas, só foram publicadas as cartas a favor. Mais: recorreu-se à velha barganha para garantir a continuidade do tema. Em troca de visibilidade um deputado anunciava a intenção de abrir uma CPI. O contemplado foi o ex-Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, Marcelo Itagiba, velha fonte de Lauro Jardim.

Dizia a matéria (clique aqui):

"Os grampos telefônicos, uma das principais ferramentas de investigação policial da atualidade, vão passar por uma devassa. Na semana passada, a Câmara dos Deputados recolheu 191 assinaturas para criar a CPI dos Grampos, que pretende investigar a suspeita de que ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tiveram seus telefones interceptados ilegalmente, conforme VEJA noticiou em sua edição passada. Cinco dos onze ministros do STF admitiram publicamente a suspeita de que suas conversas telefônicas podem estar sendo bisbilhotadas clandestinamente. A CPI, que terá prazo de 120 dias para concluir a investigação, deverá ser instalada já no início do próximo mês. "Quando a mais alta corte do país se sente ameaçada e intimidada, isso é uma coisa muita séria, que precisa de uma resposta urgente", diz o deputado Marcelo Itagiba, do PMDB do Rio de Janeiro, delegado licenciado da Polícia Federal e autor do requerimento de criação da CPI".

Era a mesma manobra do caso Edson Vidigal. Na ocasião soltou a matéria e informou que o Conselho Nacional de Justiça recebeu uma denúncia. Houve denúncia, de fato, mas depois da matéria ter sido publicada – e utilizando a própria matéria como elemento de prova. A armação era nítida, como era nítida a armação com Itagiba, para propor a CPI.

Até hoje não se sabe em que pé está a “resposta urgente” da CPI.

Mas o factóide da escuta no Supremo foi um marco importante, por ter sido o primeiro absurdo da Veja que não mereceu repercussão na mídia. Até então, todos os abusos eram repercutidos, por um efeito pavloviano que fez com que o esgoto que vazava da cobertura da revista acabasse contaminando o restante da mídia.

quarta-feira, 12 de março de 2008

A CARA DA VEJA

Slogan da nova campanha publicitária de Veja:














"Veja, indispensável para o país que queremos ser"


A cara da Veja, para todos os leitores que freqüentam o portal da revista, é o Blog de Reinaldo Azevedo.

Assista à campanha institucional da revista. Analise as imagens, mostrando os problemas nacionais, a miséria, as criancinhas, a violência. E confira, na prática, “qual o pais” que Veja quer ser.

Uma revista é o que ela publica, não o que a publicidade imagina.

Azevedo foi um jornalista apagado até os 40 anos de idade. Depois, entrou para a revista “Primeira Leitura”, que cerrou as portas quando foi denunciado o esquema de patrocínios políticos que a mantinha.

Foi, então, contratado por Mario Sabino para se tornar o blogueiro da Veja, incumbido dos ataques aos adversários e dos elogios aos amigos e à empresa. Pratica ambos com notável desenvoltura.

Dedica a Sabino temor reverencial. Quando não recebe ordens diretas da direção, procura se antecipar ao que considera ser a opinião da revista.

Às vezes erra e entra em pânico.

Quando Barack Obama despontou nas pesquisas, escreveu comentário preconceituoso contra ele. No final de semana a edição da revista elogiava o candidato. Sua reação foi enviar um e-mail temeroso a Sabino, perguntando das conseqüências do escorregão.

Acalmou-se quando recebeu o “nihil obstat”.

Tenta reproduzir o ideal “yuppie” do grupo, como apregoar que sempre foi bem sucedido (até os 40 anos era jornalista apagado; até dois anos atrás, jornalista desempregado), gostar de uísque escocês e separar parte de suas cinco horas de sono para “fazer amor”. Aprecia quando comentários supostamente assinados por leitores (grande parte dos comentários é de "anônimos", que tanto podem ser leitores quanto o próprio blogueiro) realçam sua inteligência e charme.

Gosta de ser chamado de "meu Rei" e "tio Rei" pelos leitores. Esbanja preconceito contra negros, mulheres, abusa de um linguajar chulo, não tem limites para caluniar ou difamar críticos da revista.

Seu blog participa do circuito de blogs que fazem eco às "denúncias" lançadas pelo lobby de Daniel Dantas.

É reconhecidamente pessoa desequilibrada, com pendores homofóbicos. Tem fixação em lançar insinuações sexuais contra adversários e é especialmente agressivo com mulheres. Consegue passar, sem nenhum filtro, da agressão mais escatológica contra os "inimigos" à bajulação mais rasteira das chefias.

Em qualquer publicação, independentemente do porte, seu desequilíbrio seria contido dentro de limites editoriais. Na Veja de Eurípedes-Sabino não só tem autorização para fazer o que quiser -até sugerir "boquetes" ao presidente - como é estimulado a isso.

Graças à falta de discernimento de Eurípedes e Sabino, e à pouca importância que ambos - mais a Abril - dedicam ao trabalho de preservação da imagem da revista, Azevedo representa uma espécie de caricatura, a parte mais ostensiva do processo de degradação editorial da revista. É um esgoto sem filtro. Todo o seu desequilíbrio é despejado diariamente no Blog e sua atuação festejada por Sabino.

Hoje em dia, junto ao mundo cada vez mais crescente dos freqüentadores da Internet, a imagem de Veja tornou-se irremediavelmente ligada à de Azevedo, o "tio Rei". É o exemplo mais acabado do processo de deterioração moral e editorial que tomou conta da revista.









Por Reinaldo

“Ô Tomaiz, faiz um Bequéti aí pra mim vê se ocê é bão mesmo".
"Um momento lindo nos aguarda: o petralhismo filtrado pela ópera (e bunda) seca de Gerald Thomas. Seca, mas molhada pelo capilé oficial. Em visita ao “Hemisfério Sul” como diz, Thomas deveria ir ao Palácio do Planalto. Aí o Apedeuta poderia lhe dizer: “Ô Tomaiz, faiz um Bequéti aí pra mim vê se ocê é bão memo". E ele, claro, fará. Como sempre".

“Os publicadores de releases, batedores de carteira e caloteiros estão submetendo a tal premiação a um ridículo estupendo. E os cachorros loucos estão à solta. As cadelas também”.

“De uma tal Lais F., recebo o que segue. (...) Lais F? Seria a mãe intelectual de Christiane F?”
“Entrei no site da vereadora (…) Ali, a coroa (...) aparece num desenho simpático, todo catita, em que finge ter 13 anos. Essa imagem de Lolita — que já ficou tempo demais na grelha se você tem olhos para ver — é diligentemente cultivada pela vereadora, que gosta de falar aos jovens e sentar de um jeito descontraído. No que me diz respeito, eu escondo dela as minhas crianças. Eu não tenho nada contra coroas, deixo bem claro. Muito pelo contrário. Mesmo! Desde que não miem como gatinhas”.

"Imaginem o sujeito olhar a própria cara triste no espelho, todos os dias, e constatar: “Sou um vendido, um vagabundo, um pilantra”. Mais: “Não pago as minhas dívidas: nem as públicas nem as privadas”".

"Dizer o quê? O sujeito não seria um vendido, um vagabundo, um pilantra e um caloteiro se não fosse também invejoso e mentiroso. Ele conseguiria fazer um blog de sucesso como este? Não. É um analfabeto. Mas poderia ao menos tentar. Só que é preciso trabalhar em vez de bater a carteira alheia."

"Alguns sugeriram que eu peça emprestada àquele lá a botinha cor-de-rosa. Xiii, acho que não vai dar. Para usar aquilo é preciso ter um passado, hehe. Vai que o Alexandre Frota olhe pra mim e diga: "Huuummm, que matéria!". E cobre de mim aquele rodopio sensual e manemolente. Não estou preparado para emoções fortes com esta idade..."

Dos comentaristas

"Anonymous Pyoter

Reinaldo,

Poupe o pé. Pode deixar que eu chuto a bunda desses anões e mascates. O mascate eu sei que corre, é covardão, cagão, mas eu alcanço ele."

"Blogger Sérgio

O Mascate tá com invejinha??? Manda ele distribuir pipoca no balcão de anúncios dele. Depois do vexame que ele se auto-infligiu nos últimos dias, todo mundo sabe que ser PIPOQUEIRO é a melhor das "virtudes" dele."

"Veja, indispensável para o país que queremos ser".

Por Reinaldo

(...) , um desses vagabundos que deveriam estar lendo o blog do ladrão endividado ou do ladrão bem-sucedido, não gostou do que escrevi sobre os planos de saúde.

Anonymous Anônimo

Reinaldo,

Esse que escreveu, pela fama, devia tomar cuidado para não morrer na mão de um travesti violento.

Por Reinaldo

Bem, meus caros, como vocês sabem, escreve alguém que não caiu na chamada “Obamamania”. Deixei a exaltação do “corpo moreno, cheiroso e gostoso, da cor do pecado” de Obama para Marcelo Coelho e para a desinibida Amber Lee. Acho Obama um picareta de estilo terceiro-mundista que irrompe na política americana. Mas, até aí, convenham, é questão de gosto.

(...) Que diabo se passa com o Partido Democrata americano, que tem como favoritos uma mulher e um negro com sobrenome islâmico e nenhum homem branco paraenfrentá-los? (...) Para bom entendedor: tomo o par “homem branco” como apelo simbólico à tradição e à conservação de um modelo que, inegavelmente, deu certo e fez a maior, mais importante e mais rica democracia do mundo, que venceu, por exemplo, o embate civilizatório com o comunismo.

"Veja, indispensável para o país que queremos ser".

Por Reinaldo

O paneleiro ladrão

Ele me chamou de chapeleiro? Melhor do que ser paneleiro (ver Houaiss) de sauna. Devolva o que roubou dos cofres públicos, ladrão! Pague o que deve, caloteiro! Pare de roubar o estado, os amigos e até a própria família!

A ratazana confessou que é caloteira: “Ó, gente, peguei dinheiro público e não paguei, viu?, mas sou uma pessoa bem decente. Aí eles renegociaram, né?, e agora eu puxo o saco, fingindo fazer jornalismo, de quem não executa a minha dívida. Fora isso, sou honestíssima”.

E os calotes com dinheiro privado, ratona? Ninguém faz sumir R$ 2 milhões como ela — hoje seria bem mais, né? Coitada da ratazana de sauna!

Dos comentaristas

Anônimo

Disse tudo Reinaldo, e disse com elegancia. Há muito tempo esse escroto merecia tomar uma chamada. Vendilhão de Templo!

Anônimo

Reinaldo, quando sai o livro dos 'pés-na-bunda' dos jornalistas? Quero reservar meu exemplar, deve ter cada história edificante...

Anônimo

Reinaldo,

A maior ofensa que você poderá fazer, no seu livro, a um jornalista canalha será não cita-lo.

Por Reinaldo

Eu não tenho tempo de sentir dó de mim nem de ninguém. Desde os 18 anos, ganho bem mais do que preciso para pagar as contas. É verdade: eu moro muito bem, como muito bem, vivo muito bem. Eu bebo uísque 12 anos desde quando era de esquerda: 12, 15, 18, 21. Até 60. Lula também. E durmo só cinco horas por noite — incluo aí o tempo em que faço amor (logo, menos de cinco...).

Dos comentaristas

COP

Reinaldo,

Essa petralhada tenta medir os outros segundo suas próprias medidas. Dar "porrada" em LULA e na esquerdalha em geral, além de um imperativo moral, dá um grande prazer ! Isso não tem preço. hehehehe

jorge luiz disse...Reinaldão,

Quem sou eu pra dar conselho pro meu rei, mas por favor não se nivele a esse meliante.

Vou te dizer uma coisa: nunca saberia da existência desse pulha se não fõsse você ficar falando tanto nele.

Não percebe que faz o jogo do escroque? Me admira você!Deixa o inominável lá, chafurdando no ridículo dele, fazendo linkinho com o ibest, ensinando seus "eleitores" a votar e a multiplicar os votos.

Continue sendo referência e brindando seus leitores com sua inteligência, sagacidade e principalmente indignação com a mediocridade, incompetência e roubalheira da tropa petralha.
Cláudio disse...

Quem é o paneleiro aí (gay) Reinaldo?? Conta.....fala o nome dele.

Anônimo disse...

Olha aí moçada, o Blog é do Reinaldo Azevedo.

Se ele quiser chamar alguém de viado, de vagabundo e ladrão é problema DELE.

Quem quiser entrar no site do Bandolin ou da Pantera cor de rosa, que entre, mas não use o Reinaldo como desculpa.

E parem com esse papo do "politicamente correto".

Senta o dedo nesses porras Reinaldão.

"Veja, indispensável para o país que queremos ser".

Por Reinaldo

E Lancelotti fez a barba...

Vejo nas fotos que o padre Júlio Lancelotti fez a barba para se encontrar com Lula. Aquela aparência de mártir serviu para o período em que estava sendo “perseguido”. Perseguido por sua própria biografia, naturalmente. No abraço com Lula, o padre está com a cara lisa, lustrosa mesmo. Parece mogno com verniz.

Dos comentaristas

Anonymous Mário

Caro Reinaldo,

O abraço dos safados! Com certeza usou a loção após barba adequada para o seu tipo de pele (e carater): óleo de peroba.

Anonymous Anônimo

O padre Lancelotti pode tirar a barba, pode lavar a cara, pode ser recebido e abraçado até pelo Santo Papa. Enquanto não ficar explicado, e bem explicadinho, com que dinheiro vestia o seu fofo, estará de cara suja. E a alma imunda. Mas isso ele terá de prestar contas para Alguém incorruptível.

Anonymous Peru Pachola y su orquestra típica

O Lancelotti fez a barba para não espetar e machucar o saco dos dimenores que ele agasalha e protege.

"Veja, indispensável para o país que queremos ser".

Por Reinaldo

Se é mesmo de coração, então logo os anões, mascates e tocadores de tuba mudam de opinião de novo. O amigo do “Beto” corre o risco de se desintegrar, coitado! Já não sabe mais o que dizer a respeito do caso. A ratazana da sauna espera ansiosamente um sinal para poder dar uma opinião lucrativa. Tem saudade dos tempos em que se achava poderoso o bastante para achacar até um secretário de estado, razão por que caiu em desgraça e levou o bilhete azul no focinho.

Vocês acham mesmo que alguém da VEJA, pouco importa o cargo, enviaria um comentário para o blog de Luis Nassifu?

Anonymous Anônimo

Aí Reinaldão, "Nassifudeu" foi foda... kkkkkkkkkkkk

Anonymous Anônimo

Petralha nojento às 1:17 PM. Ele aparece de novo às 1:27 PM. O canalha se chama Ary. O cara é tão burro que não entende um trocadilho. Nassifu. Castração nele, prá latir fino. E canil.

Por Reinaldo

Sai com essa língua pra lá, baranga.

Quatro ONGs na Amazônia? E nada de um boto cor-de-rosa dar jeito nesse furor? Parodiando Gonçalves Dias, “rejeitada dos homens na guerra, rejeitada dos botos na paz”???

Ui, é a namorada do boto!? Consulado estrangeiro dando respaldo a mais de 15 países? Seria uma suruba diplomática? E escreve “réles”? Tadinha da moça. Essa função diplomática simplesmente inexiste. Claro que há moças versadas em várias línguas para divertir estrangeiros. No Brasil e no mundo. A mais famosa do momento é a impagável Bebel, muito mais interessante, diga-se, do que Camila Pitanga".

(Nota: a personagem era uma prostituta)

"Um bandidinho – na verdade, bandido de médio porte – que foi demitido de um jornal por receber, por fora, dinheiro de empreiteira; que contrai empréstimos e não paga; que é famoso no mercado por dar “carteiradas”, bem, esse mascate de convicções não tem autoridade moral, profissional e ética para julgar meus motivos".

Dos Comentaristas

Paulo Boccato disse...
UAU !

A DONA É QUASE UMA ONU AMBULANTE !

..É QUE CU RRICUULM !!

CARLOS-DF disse...

(...), MEU AMOR. DEIXE DE BESTEIRA. VÁ GANHAR SEU DINHEIRO. COM TANTOS PREDICADOS, VOCÊ NÃO DEVERIA PERDER SEU TEMPO ENTRANDO NO BLOG DO NASSIF PARA MANDAR RECADO PRO REINALDO AZEVEDO. VOCÊ ESTÁ PERDENDO SEU TEMPO E DINHEIRO COM ISSO... DEVERIA APROVEITAR TODA SUA EXPERIÊNCIA E ABRIR UM BORDEL NA INGLATERRA COM O NOME BRASÍLIA, COMO FEZ Jeany Mary Corner, produtora das festas mas comentadas de Brasília...

Anônimo disse...

Caro Reinaldo, A Pistoleira (...), com certeza tem um empreguinho Publico que esqueceu de dizer, e as 4 ONDs deve receber dinheirinho nossos.

Ela conhece o mundo todo e em todos idiomas, só não conhece o Brasil e seus amigos.
Senhora Doutora "Pistolera" porque não deixa de tomar os remedinho e volta para a realidade, sai dessa "balada-boa", vão acabar com os poucos neuronios que sobraram.

Jose Antonio --- Campinas

Quanto ao Senhor "Nassifoi", experimenta PEIDAR NAGUA PARA FAZER BOLINHA, VAI SE SENTIR FFELIZ, COM O BRINQUEDINHO E DEIXAR DE FALAR E ESCREVER ASNEIRA

Por Reinaldo

Mas (...) (Nota: um senhor com mais de 70 anos) é do tipo que julga ter uma reputação; ele acredita na sua própria pantomima. O seu traseiro, simbolicamente falando, é gordo, polpudo, e merece ter estampada a sola do sapato.

Sobre a série da Veja

Se um meliante moral, agindo a soldo, cria uma cadeia de difamação contra este ou aquele veículos, contra esta ou aquela pessoas, tem de responder pelos seus atos segundo os rigores do estado democrático e de direito, que protege a honra e a dignidade pessoais e a reputação de empresas."

"Veja, indispensável para o país que queremos ser".

domingo, 9 de março de 2008

O método Veja de jornalismo

A degradação jornalística da revista Veja foi fruto de dois fenômenos simultâneos que sacudiram a mídia nos últimos anos: a mistura da cozinha com a copa (redação e comercial) e o afastamento dos princípios jornalísticos básicos.

Vamos analisar um processo de cada vez.

A copa e a cozinha

Os grupos de mídia sempre tiveram muitos interesses em jogo. Mas, para não contaminar as redações, se procurava tratar em âmbito das cúpulas das empresas. Sempre havia maneiras “técnicas” de vetar determinadas matérias que não interessavam, assim como conferir tratamento jornalístico a matérias de interesse da casa.

Como a avaliação é subjetiva e altamente hierarquizada, bastava o editor ou secretário de redação ou o diretor de redação alegar que a matéria não estava boa, para estabelecer-se um veto técnico – que faz parte dos usos e costumes de todas as redações.

Para administrar esse território delicado, as boas redações jamais prescindiram de comandantes fortes e competentes. Eram os avalistas do jornalismo perante a empresa e da empresa perante a redação. Eles não iam contra a lógica comercial, mas eram os radares, aqueles que informavam até onde se poderia avançar ou não no noticiário sem comprometer a credibilidade da publicação.

Apos a crise cambial de janeiro de 1999, o quadro começou a mudar. Apertos financeiros levaram gradativamente muitas publicações a abrirem mão de cuidados básicos, não só permitindo a promiscuidade entre a copa e a cozinha (redação e comercial), mas também em manobras de mercado. Quanto às manobras de mercado, deixo apenas registrado, porque não será tema dessa série.

Um episódio, no inícios de 1999, marcaria os novos tempos. Em 10 de março de 1999, em pleno escândalo das “fitas do BNDES”, a revista recebeu material demonstrando que a Previ tinha assinado acordo com o banco Opportunity, de Daniel Dantas, mesmo tendo sido desaprovado por sua diretoria. A matéria foi feita pelo repórter Felipe Patury (clique aqui).

"No início de fevereiro, um diretor do fundo, Arlindo de Oliveira, mandou uma carta ao presidente da Previ. São três páginas, e o tom é de indignação, expresso em frases que se encerram com três pontos de exclamação. Na carta, o diretor relata que a diretoria da Previ, reunida em julho do ano passado, decidiu que não faria parceria com o Opportunity no leilão das teles tendo de pagar ao banco 7 milhões de reais por ano de "taxa de administração". A diretoria achou o valor descabido e decidiu só fazer o negócio se não tivesse de pagar a taxa. O estranho é que essa decisão foi ignorada. A Previ associou-se ao Opportunity na compra de três teles (Tele Centro Sul, Telemig Celular e Tele Norte Celular) e comprometeu-se a arcar com os 7 milhões de reais por ano, apesar da decisão contrária da diretoria.

Segundo a matéria, a Previ também havia entrado – sem autorização da diretoria – na operação de compra da Telemar que – na época – pensava-se que sairia para o Opportunity".

Na semana seguinte, o repórter conseguiu mais material das suas fontes. Chegou a preparar a matéria. Na edição seguinte, de 17 de março de 1999, a matéria não saiu publicada. Mas, pela primeira vez, o banco Opportunity – denunciado na edição anterior – bancou duas páginas de publicidade na revista.

Não batia. O Opportunity não é banco de varejo, não atua sequer no middle market. Não havia lembrança de publicidade dele nem mesmo em revistas especializadas – como a Exame.

No dia 31 de março de 1999, mais duas páginas de publicidade do Opportunity.

Esse mesmo procedimento – em mão inversa – seria empregado nas duas edições em que Diogo Mainardi me atacou, em defesa de Daniel Dantas. Só que, nesses casos, a fatura foi mais alta: 6 páginas de publicidade da Telemig Celular e Amazônia Celular em cada edição, 12 ao todo. Também não se justificava tamanho investimento publicitário por parte de empresas que tinham atuação regional.

Qualquer manual de administração ensina que, quando a empresa passa a fugir do comportamento ético nas suas ações externas, acaba contaminando toda a estrutura.

Aparentemente, ocorreu um liberou geral na revista.

Com escorregões cada vez mais freqüente, passou a se tornar difícil – mesmo para os leitores mais atilados – identificar o que eram falhas editoriais, o que era interesse da Abril e o que era interesse dos diretores da revista.

Havia um fator a mais a estimular a falta de controle: a desobediência completa aos princípios jornalísticos básicos. E aí se entra em um farto material sobre o mais completo compêndio de anti-jornalismo que a história moderna da mídia brasileira registrou: o estilo Veja de jornalismo.

Desde os anos 80, cada vez mais Veja se especializaria em “construir” matérias que assumiam vida quase independente dos fatos que deveriam respaldá-las. Definia-se previamente como “seria” a matéria. Cabia aos repórteres apenas buscar declarações que ajudassem a colocar aquele monte de suposições em pé.

Essa preparação prévia da reportagem ocorre nas reuniões de editores, toda segunda-feira. É chamada de "pensata". É considerado bom repórter, pela revista, aqueles que conseguem se adaptar melhor ao espírito da "pensata".

O que era um estilo criticável, com o tempo, acabou tornando-se uma compulsão, como se a revista não mais precisasse dos fatos para compor suas reportagens. Ela se tornou uma ficção ampla, o que é de conhecimento geral dos jornalistas brasileiros.

Ainda nos anos 80, o caso mais célebre foi o do “boimate” – criação de Eurípedes Alcântara, já mencionado em outro capítulo.

Mas, à medida que se entrava na era Tales Alvarenga-Eurípedes-Sabino, final dos anos 90 em diante, esse estilo ficcional passou a arrostar os limites da verossimilhança.

O primeiro filtro sobre uma matéria é avaliar se os fatos relatados são verossímeis. Se passar nesse teste básico, é que se irá conferir se, mesmo sendo verossímeis, também são verdadeiros.

Com o tempo, gradativamente o jornalismo de Veja deixou de passar sequer por esse filtro básico. Tornou-se cada vez maior a quantidade de matérias absurdas, sem nexo, sem conhecimento básico sobre economia, finanças, valores, relações de causalidade. E sobre jornalismo, enfim.

O modelo Veja de reportagem

Antes de análises de caso, vamos a uma pequena explicação sobre como é esse estilo Veja de reportagem, que se parece muito com essa brincadeira de desenhar juntando os pontos de uma página em branco.

1. Levantam-se alguns dados verdadeiros, mas irrelevantes ou que nada tenham a ver com o contexto da denúncia, mas que passem a sensação de fazerem parte de um todo maior. Ou de que o jornalista, de fato, acompanhou em detalhes o episódio narrado.

2. Depois juntam-se os pontos, estabelecem-se relações entre eles ao bel prazer do repórter. Cria-se um roteiro de filme, muitas vezes totalmente inverossímil, mas calçando-o em cima de alguns fatos supostamente verdadeiros.

3. Para “esquentar” a matéria ou se inventam frases que não foram pronunciadas ou se tiram frases do contexto ou se confere tratamento de escândalo a fatos banais. Tudo temperado por forte dose de adjetivação.

O caso "boimate" é clássico. Depois de cair no conto de 1o de abril da New Scientist - sobre um cruzamento de boi com tomate que resultou em uma carne com molho -, coloca-se um repórter para obter uma frase de efeito de um cientista da USP.
O repórter pergunta o que o cientista acha. A resposta foi óbvia: era impossível. O repórter tinha que voltar com a frase que se encaixasse na matéria, então insiste: "E se fosse possível!". O cientista, ironizando: "Seria a maior revolução da história da genética".A matéria saiu com a frase do infeliz dizendo que era a maior revolução da história da genética.

As colunas de Diogo Mainardi sobre o caso Telecom Itália são um exemplo amplo dessa deformação jornalística – claramente a serviço de um lobby.

Dentre todos os repórteres, no entanto, nenhum se esmerou mais na arte ficcional que Policarpo Júnior, recentemente promovido a Diretor da Sucursal de Brasília da publicação. Assim como Lauro Jardim e Mainardi cultivam os lobistas cariocas, Policarpo é um freqüentador habitual do submundo de Brasília, convivendo com arapongas, policiais e lobistas em geral.

Vamos a alguns exemplos pré-governo Lula para entender, na prática, em que consiste esse estilo Veja, a partir de algumas obras de Policarpo.

O caso Chico Lopes

Em janeiro de 1999, quando houve o estouro no câmbio, seguiu-se uma catarse geral na mídia, uma busca de escândalos a qualquer preço. Foram publicados absurdos memoráveis, que acabaram se perdendo no tempo – como o de que Fernando Henrique Cardoso se valia do seu Ministro-Chefe da Casa Civil Clóvis Carvalho para informar os banqueiros sobre as mudanças cambiais.

O escândalo refluiu, cada publicação tratou de esquecer as ficções que plantou e a vida prosseguiu.

Na época, Veja publicou uma capa acusando Chico Lopes de ter beneficiado os bancos Marka e FonteCindam com informações privilegiadas. Chegou a afirmar que quatro bancos pagavam US$ 500 mil mensais para terem acesso a informações privilegiadas sobre câmbio (clique aqui).

A matéria não respondia à questão central: se os dois bancos recebiam informações privilegiadas de Chico Lopes, se Chico assumiu a presidência do Banco Central com a missão precípua de mudar a política cambial porque, raios!, apenas eles quebraram na mudança? Na época, a explicação de Veja já era absurda. Assoberbado com os problemas da mudança cambial, Chico tinha se esquecido de avisar seus clientes (que lhe pagavam US$ 500 mil mensais apenas para ter aquela informação).

O mistério persistiu até o dia 23 de maio de 2001 quando saiu a capa da Veja “A História Secreta de um Golpe Bilionário” um clássico à altura do “boimate”, de Eurípedes Alcântara (clique aqui).

A abertura nada ficava a dever a um conto de Agatha Christie.


O momento mais dramático do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso ocorreu no dia 13 de janeiro de 1999.(...) O que ninguém sabia é que, desde aquele dia, um grupo reduzidíssimo de altos membros do governo passou a guardar um segredo de Estado, daqueles que só se revelam vinte anos depois da morte de um presidente. Após quatro meses de investigação e 22 entrevistas com catorze personagens envolvidos, VEJA desvendou peças essenciais para o esclarecimento do mistério, que resultou na inesperada, e até hoje inexplicada, demissão do presidente do Banco Central apenas duas semanas depois da desvalorização.


A demissão de Lopes tinha sido mais que explicada: os erros na condução da mudança da política cambial.

O então presidente do Banco Central, o economista Francisco Lopes, vendia informações privilegiadas sobre juros e câmbio – e uma parte de sua remuneração saía da conta número 000 018, agência 021, do Bank of New York. A conta pertencia a uma empresa do Banco Pactual, a Pactual Overseas Bank and Trust Limited, com sede no paraíso fiscal das Bahamas. Chico Lopes, como é conhecido, repassava as informações para dois parceiros, que se encarregavam de levá-las aos clientes do esquema. Os contatos entre os três eram feitos por meio de aparelhos celulares. A Polícia Federal suspeita que os números sejam os seguintes: 021-99162833, 021-99835650 e 021-99955055
Salvatore Alberto Cacciola, então dono do banco Marka, do Rio de Janeiro, descobriu todo o esquema por meio de um grampo telefônico ilegal e também passou a ter as mesmas informações privilegiadas. As fitas, que registram as conversas grampeadas, estão guardadas num cofre no Brasil – e há cópias depositadas num banco no exterior. Cacciola chegou a custear viagens a Brasília para que seu contato obtivesse, pessoalmente, as informações de Chico Lopes. Numa delas, seu contato voou do Rio a Brasília num jatinho da Líder Táxi Aéreo (o aluguel do jato saiu por 10 500 reais) e hospedou-se no hotel Saint Paul (a conta: 222,83 reais). Quebrado com a mudança cambial, que seu informante não conseguiu avisar-lhe a tempo, Cacciola desembarcou em Brasília no dia seguinte, 14 de janeiro de 1999, com o que chamou de "uma bazuca". Ela estava carregada de chantagem: ou o BC lhe ajudava ou denunciaria ao país a existência do esquema. O BC ajudou. Vendeu dólar abaixo da cotação e, no fim, Cacciola levou o equivalente a 1 bilhão de reais.

Era um furo fantástico! Cacciola não seria mais o financiador das informações privilegiadas de Chico Lopes. Em vez de pagar US$ 500 mil mensais, descobrira o modo mais barato, de grampear os celulares por onde transitavam as informações secretas.

Na mesma abertura se dizia que ele se informava através de um “grampo” e que ele tinha um informante.

Nem se fale do contra-senso de alguém experiente em mercado jogar todo seu futuro no resultado de um “grampo”. Não tinha lógica. Qualquer decisão de mudança de política cambial seria imprevista, da noite para o dia. Como confiar toda sua vida financeira a um mero “grampo”?

Segundo a matéria, no dia aziago o grampo falhou, e Cacciola quebrou. Indignado, foi tirar satisfações com Chico Lopes, que cedeu à chantagem.

Não tinha pé nem cabeça. Mas como foi montado esse nonsense?

Depois de “22 entrevistas com 14 personagens” envolvidos, Policarpo havia conseguido – de fato - as seguintes informações:

1. Com Luiz Cezar Fernandes, ex-controlador do Pactual, em briga com seus ex-sócios, o número da suposta conta-corrente do Pactual em Nova York, de onde sairiam os supostos pagamentos para Chico Lopes. Na verdade o numero apresentado era o de registro do banco na praça de Nova York, feito junto ao Banco de Nova York – equivale aquele 001 que você confere nos cheques do Banco do Brasil.

2. Na declaração de renda de Luiz Bragança (o suposto intermediário de Chico Lopes no vazamento das informações) algum araponga brasiliense levantou os números dos três celulares. Ou seja, o sujeito montava um esquema super-secreto para transmitir informações, que supostamente renderia US$ 500 mil mensais, valendo-se de telefones celulares – e colocava o numero dos aparelhos na sua declaração de renda.

Eram essas as informações de Policarpo, e algumas outras, como o vôo de Cacciola a Brasília, o hotel onde se hospedou, informação sem nenhuma relevância e fartamente divulgada pela imprensa em janeiro de 1999.Como tempero final, um apanhado de fatos e dos boatos mais inverossímeis que circularam por ocasião da mudança cambial. De fatos, a conta que Chico Lopes tinha no exterior - descoberto pela Polícia Federal.Bastava isso para se para se ter um enredo que provocou gargalhadas em todos os jornalistas que cobriam a área financeira. Veja tinha a informação sobre os celulares de Bragança, tinha declarações de Cacciolla de que fizeram alguns "grampos". Pronto: bastou para concluir que as informações transitavam pelos celulares (o mais vulnerável dos meios de comunicação) e Cacciolla ficava sabendo através de "grampos". Nenhum dado adicional respaldava essa conclusão.

Na época apontei a maluquice; minha colega Mirian Leitão também. E menciono a Mirian por que, anos depois, essa crítica estimularia uma revanche de Veja: ataques continuados a seu filho Matheus Leitão, repórter da revista Época. Essa história será contada em outro capítulo.

Citado na matéria, o economista Rubens Novaes, enviou carta a Veja esclarecendo todos esses pontos. A carta jamais foi publicada. Ele limitou-se a enviar cópias para alguns jornalistas.

Longe de mim afirmar que não houve irregularidade, que Cacciola era inocente, ou mesmo colocar a mão no fogo por Chico Lopes. Na época, mesmo, divulguei indícios fortes de que Cacciola tinha, no mínimo, alguém que lhe passava informações sobre as taxas de juros praticadas pelo Central - e até sugeri a metodologia para identificar essa prática de "insider".Mas era evidente que toda a matéria de Veja se constituía em ficção ampla.

Anote esse exemplo porque, longe de se constituir em exceção, refletia um padrão de "jornalismo" presente em todas as coberturas bombásticas da revista.

Na era Eurípedes-Sabino, Policarpo, repórter de escândalos, freqüentador, como jornalista, do submundo dos lobbies de Brasília, tornou-se diretor da sucursal da revista. E se tornaria o autor das capas mais rocambolescas da cobertura do “mensalão”.

Coube a ele divulgar o vídeo em que o funcionário dos Correios, Mauricio Marinho, aceitou a propina de R$ 3 mil. E que deflagrou a campanha do “mensalão”.

Mas isso é tema para outro capítulo.

segunda-feira, 3 de março de 2008

A imprensa e o estilo Dantas

Conforme fartamente demonstrado nos capítulos anteriores, antes de fechar com Dantas a direção da Veja o tinha em conta como alguém que comprava reportagens, fabricava dossiês falsos e subornava jornalistas.

No capítulo “Os Primeiros Ataques a Dantas” e “O dossiê falso” esmiuço as sucessivas denúncias de Veja antes de ser cooptada pelo banqueiro. Qual a lógica que leva uma revista a se associar a um empresário que, segundo ela mesmo, espalha dossiês falsos, compra reportagens e jornalistas? Há muitas explicações para isso, nenhuma boa, do ponto de vista jornalístico.

Essa atuação da revista, no entanto, era apenas a ponta final de uma linha de operação que passava por várias instâncias antes de desembocar nos dossiês e informações passadas ao quarteto de Veja.

O jogo fica mais claro quando se começa a penetrar no mundo de Dantas e a entender melhor a linha de montagem preparada para suas guerras empresariais.

Nelson Tanure ganhou rios de dinheiro entrando em ações judiciais que tinham por único objetivo criar dificuldades para a concretização de algum negócio. Com a lentidão da justiça brasileira, as partes envolvidas achavam mais barato pagar para se ver livre das ações. Caso típico foi a compra do Banco Boavista pelo Bradesco.

A partir das lições de Nelson Tanure, Dantas percebeu que ações judiciais, matérias na imprensa, com espionagem, dossiês falsos, faziam parte de uma mesma estratégia, portanto deveriam estar sob um mesmo comando.

Assim, montou uma estrutura de lobby interna, contemplando diversos elos das disputas empresariais, colocando-os todos sob o mesmo comando - de Humberto Braz, diretor corporativo da Brasil Telecom no período em que Dantas esteve no comando da companhia.

Braz integrava e comandava os trabalhos jurídicos (legais e de lobbies), os contatos com espionagem (da Kroll a jornalistas infiltrados no meio), a cooptação de publicações e jornalistas, através do comando sobre as verbas publicitárias de empresas controladas e a contratação de assessorias de imprensa incumbidas de atrair jornalistas para o esquema Dantas. Ou seja, era responsável pela publicidade nas empresas, pelo pagamento às assessorias incumbidas de cooptar jornalistas e pela montagem dos dossiês.

Grosso modo, se poderia desenhar assim o cronograma da operação.

Vamos nos fixar na parte jornalística, que é objeto dessa série, e já é dor-de-cabeça o suficiente.


No campo da mídia propriamente dita, a coordenação de Humberto Braz consiste dos seguintes movimentos:


• Agências de Publicidade: não apenas opinava sobre as campanhas da Brasil Telecom, quando sob controle de Dantas, como dava a última palavra nas campanhas da SMP&B e DNA (de Marcos Valério), que eram agências da Telemig Celular e da Amazônia Celular.
• Mantinha contratos formais com sites de informação, como Consultor Jurídico e Cláudio Humberto.
• Tinha contratos polpudos, muito acima dos preços de mercado, com assessorias como FSB, Andreolli, Insight, AbreDePágina, LínguaMensagem. Em muitos casos (como a FSB), não havia nenhum relatório de serviços prestados. Pelos valores envolvidos, havia suspeitas de que, por trás de algumas delas, poderiam se esconder jornalistas profissionais militando na mídia.
• Mantinha contato com a Kroll e com jornalistas ou empresários do setor incumbidos do trabalho de informação e espionagem.


O modo de operação obedece a um padrão.


1. Montagem de dossiê, para a qual, além da Kroll, Braz conta com as próprias assessorias de imprensa, além de outros personagens que serão mostrados no decorrer deste capítulo.
2. Depois, o lobista passa as informações para o jornalista cooptado.
3. O jornalista publica sem mencionar a fonte, ou mentindo sobre sua origem (caso recente de Diogo Mainardi sobre o dossiê da Telecom Italia).
4. Outros jornalistas, cooptados, repercutem a denúncia.
5. O lobista faz um apanhado do conjunto de informações e agrega ao processo, como se viesse de fonte neutra.
6. Finalmente, o uso das agências de publicidade para "adoçar" a boca das publicações.


É nesse o ambiente de atuação do lobby de Dantas, que o quarteto de Veja se torna um dos operadores mais audazes.

O caso Nassif

Vamos a alguns exemplos práticos de como funciona esse sistema estruturado.


Ao longo de 2003, 2004 em diante, andei escrevendo sobre Daniel Dantas, tentando trocar em miúdos o intrincado roteiro de que se valia o banqueiro para confundir a opinião pública.


Fui alvo de uma tentativa de “assassinato de reputação” praticada por Diogo Mainardi, através de duas colunas na revista Veja, em 14 e 21 de agosto de 2005. Como relatei no início da série, foi o primeiro serviço prestado pela revista dentro da nova fase de aliança com Dantas.


Na época em que sofri o ataque de Mainardi, tinha escrito colunas informando que as agências financiadoras do “mensalão” – SMP&B e DNA – trabalhavam para a Telemig Celular e Amazônia Celular, controladas por Dantas.


Anote os ataques de Mainardi e me acompanhe por um passeio pela agenda do lobista Humberto Braz.


Dossiê – Sérgio Thompson Flores é um ex-diplomata que enriqueceu com privatizações e tentou seguir os passos de Nelson Tanure, de entrar na mídia como reforço para manobras de lobby. No começo de 2005, estava montado uma revista e me procurou propondo se associar à Dinheiro Vivo. Me atazanou por um mês, querendo um plano de negócios com os dados da empresa. Depois que recebeu, sumiu com as informações. Na mesma época, foi trabalhar na agência Rodrigo Squizatto. Quando estourou o escândalo Kroll, seu nome apareceu em um CD e ele admitiu que continuava trabalhando para a empresa e seu contato era o português Tiago Verdial.


Thompson Flores reuniu-se com Braz sucessivamente em 11, 15 e 25 de junho, em 2, 6, 9 e 16 de julho de 2004. A Brasil Telecom anunciou na capa da revista durante praticamente todo o ano. Braz reunia-se periodicamente com a Kroll. Provavelmente vem daí a origem do "dossiê" manipulado por Mainardi.


Jornalista –o passo seguinte era encontrar o jornalista “sela”. Conforme relatado nos primeiros capítulos, a cooptação da Veja se dá em meados de 2005. O primeiro serviço prestado foi de Diogo Mainardi me atacando.
Publicidade – apesar de presidente da holding da Brasil Telecom, Braz dava a palavra final para todas as campanhas preparadas pelas agências SMP&B e DNA, de Marcos Valério. Por exemplo, reúne-se com Marcos Valério e Cristiano Paes nos dias 21 e 22 de junho de 2004, 13 e 22 de julho de 2004 e 5 de agosto de 2004.
É de Humberto Braz a autorização final para a veiculação de 12 páginas de publicidade na revista Veja, seis em cada uma das duas edições contendo os ataques de Mainardi. Ou seja, enquanto denunciava a plenos pulmões o "mensalão", a Veja recebia 12 páginas de publicidade das agências do "mensalão", aparentemente como contrapartida pelo ataque combinado com seu colunista para desviar a atenção sobre as fontes de financiamento do "mensalão".


O caso Márcia Cunha


Vocês se recordam do capítulo “O Caso Edson Vidigal”, onde se narrava a tentativa de “assassinato de reputação” da Veja em cima do então presidente do Superior Tribunal de Justiça, por ter confirmado a sentença que apeou o Opportunity do comando da Brasil Telecom. Foi na edição de 21 de setembro de 2005.
Em 13 de abril de 2004, os fundos e o Citigroup propuseram uma ação para anular o chamado contrato guarda-chuva (que conferia plenos poderes ao Opportunity para gerir as empresas de telefonia).


Em maio de 2005 a juiza Márcia Cunha, da 2a Vara Empresarial do Rio de Janeiro proferiu a sentença, anulando os efeitos de um acordo guarda-chuva que dava plenos poderes a Dantas. A decisão foi mantida pelo Tribunal de Justiça do Rio.


Foi alvo de uma campanha pesada, que culminou com advogados do Opportunity recorrendo a linguistas, para tentar provar que a sentença não tinha sido escrita por ela.


Através de Mauro Salles, tentaram comprar o parecer de um funcionário da Academia Brasileira de Letras, que recusou. O "imortal" Antonio Olintho não se fez de rogado e aceitou a encomenda. Um dia a ABL ainda terá que colocar essa história em pratos limpos.


Pressionada, a juiza denunciou ter sido alvo de uma tentativa de suborno por parte de Eduardo Rascovisky, falando em nome do Opportunity. Atenção: entre 6 de fevereiro de 2004 e 20 de outubro de 2004, Rascovisky teve 16 reuniões com Humberto Braz.


Qiando a juíza denunciou a tentativa de suborno, a "Folha" incumbiu a repórter Janaína Leite de ir ao Rio cobrir o episódio (clique aqui).

Em vez de se concentrar nas acusações da juíza, Janaína comete uma tentativa de “assassinato de reputação” – sem identificar a fonte da informação. Semanas atrás se ficou sabendo que sua principal fonte de informação era um diretor do Opportunity.

Não é a primeira vez que Márcia Cunha sofre questionamentos administrativos. A primeira foi no início dos anos 1990 e envolvia tentativa de fraude fiscal. A juíza também foi alvo de críticas por aceitar passagens de cortesia da Varig quando julgava processos envolvendo a companhia aérea. (...)


A decisão da juíza foi dada poucos dias após a apresentação da defesa do Opportunity, que contava com mil páginas. Ao todo, mesmo o julgamento sendo liminar e não de mérito, a sentença contava com 40 páginas impressas. Causou estranheza ao Conselho de Magistratura a rapidez e a diferença no padrão de decisões proferidas por Márcia Cunha - geralmente manuscritas e com, no máximo, quatro páginas.


O mesmo modelo da Veja, o mesmo modelo das colunas de Mainardi. Um conjunto de informações incompletas, de fatos banais que se transformam em escândalos, no formato de um dossiê.


O que seria uma “tentativa de fraude fiscal”? Uma declaração de renda incorreta, algum lançamento errado? A matéria não avançava em informações.

O Opportunity apresentara uma defesa de mil páginas. Suspeita seria a juiza se respondesse com uma sentença manuscrita de quatro páginas. No entanto, era “acusada” de ter escrito uma sentença de 40 páginas no computador.

Era a subversão absoluta do conceito de escândalo, mas fazia parte de um procedimento padrão do esquema jornalístico montado, e que seria repetido por Mainardi, Veja, Leonardo Attuch e outros jornalistas que atuavam de forma sincronizada.Um ano depois, a juíza foi inocentada das acusações. A cobertura da “Folha” voltava às mãos sérias de Elvira Lobato (clique aqui).

Em 20 de janeiro de 2006, os repórteres Chico Otávio e Maria Fernanda Delmas, de “O Globo”, escreviam ampla reportagem sobre a influência de Eduardo Raschkovsky no TJ do Rio de Janeiro (clique aqui).


Em 4 de março de 2006, Elvira Lobato e Pedro Soares mostram as perseguições sofridas pela juiza (clique aqui).


Em quase todos os casos havia a mesma articulação de interesses, a manipulação de denúncias, a chantagem explícita - caso de Mainardi nas suas últimas colunas na Veja.
Algumas vezes o jornalismo conseguia sair vitorioso, como nesse episódio.